A profecia das 70 semanas de Daniel, registrada no capítulo 9, é certamente um dos temas mais debatidos da escatologia bíblica. Isso porque, ao estudar o texto, encontramos uma sequência de eventos proféticos que apontam diretamente para o plano de Deus. Daniel, ao ler o livro do profeta Jeremias, entendeu claramente que o povo de Israel ficaria cativo na Babilônia por 70 anos (Daniel 9:2). Esse juízo se baseava em um iten da lei de Moisés: a terra deveria descansar um ano a cada sete anos (Levítico 25:3-4).
No entanto, o povo não obedeceu a esse mandamento e, por causa disso, após 490 anos de desobediência, o juízo divino foi inevitável. Consequentemente, Deus permitiu que Jerusalém fosse destruída e que os judeus fossem levados cativos por Nabucodonosor, rei da Babilônia (2 Crônicas 36:20-21).
Dessa forma, os 70 anos de cativeiro correspondiam exatamente ao período em que a terra “recuperaria” os anos de descanso que haviam sido negligenciados. Além disso, esse contexto revela o cuidado de Deus em cumprir Sua Palavra com precisão. Por isso, Daniel, ao compreender a gravidade da situação, se coloca em oração fervorosa, confessando os pecados do povo e pedindo misericórdia.
É então que, em meio a essa busca intensa por respostas, o anjo Gabriel aparece para trazer uma revelação ainda mais profunda: as setenta semanas, ou seja, os 490 anos que definiriam não apenas o destino de Israel, mas também o plano de redenção preparado por Deus desde o princípio.
O Significado de “Semanas” no Texto Original

No hebraico, a palavra traduzida como “semana” é שָׁבוּעַ (shabuwaʿ), que significa “período de sete”. Por isso, o termo pode indicar sete dias, sete semanas, sete meses ou sete anos, dependendo do contexto. Entretanto, quando analisamos a passagem, percebemos claramente que Daniel trata de períodos de sete anos, e não de dias.
Isso acontece porque, logo no início do capítulo, Daniel reflete sobre os 70 anos de cativeiro. Esse cativeiro ocorreu justamente porque o povo desobedeceu ao mandamento de deixar a terra descansar um ano a cada sete anos (Levítico 25:3-4). Assim, ao conectar o contexto histórico à revelação, entendemos que as setenta semanas representam setenta ciclos de sete anos, o que totaliza 490 anos.
Esse detalhe é extremamente importante, pois demonstra que o calendário profético de Deus para Israel segue um padrão exato. Portanto, os eventos descritos em Daniel 9 se estruturam inteiramente sobre ciclos de sete anos, o que confirma a precisão do plano divino.
O Anúncio do Anjo Gabriel: O Plano das 70 Semanas
Em Daniel 9:24, o anjo Gabriel apresenta seis objetivos que seriam alcançados durante o período das setenta semanas:
- Extinguir a transgressão
- Dar fim ao pecado
- Fazer expiação pela iniquidade
- Trazer justiça eterna
- Selar a visão e a profecia
- Ungir o Santo dos Santos
Esses objetivos apontam diretamente para o plano redentor de Deus. Três deles já se cumpriram durante a primeira vinda de Cristo; entretanto, outros três ainda aguardam cumprimento na segunda vinda. Nesse momento futuro, Deus estabelecerá Sua justiça eterna, confirmará plenamente a visão e a profecia e reinaugurará o templo santo, algo que acontecerá de forma definitiva no Reino Milenar de Cristo.
O Início da Contagem: O Decreto de Artaxerxes
O marco inicial do período das 70 semanas começa, conforme Daniel 9:25, “a partir da ordem para restaurar e reedificar Jerusalém”. Entre os estudiosos, o decreto mais aceito foi emitido por Artaxerxes I, rei da Pérsia, em 458 a.C. (Esdras 7:11-26).
Esse decreto não apenas autorizou o retorno dos judeus, mas também permitiu a restauração completa da cidade, e não somente do templo. Assim, quando contamos 69 semanas proféticas — o equivalente a 483 anos — chegamos ao início do ministério de João Batista, que ocorreu por volta de 26 d.C.. Essa conclusão se confirma ao compararmos com Lucas 3:1-3, que situa o início da pregação de João “no 15º ano do governo de Tibério César”.
As 69 Primeiras Semanas e a Manifestação do Messias
As primeiras 69 semanas — equivalentes a 483 anos — apontam diretamente para a chegada do Messias. Nesse período, João Batista pregou por cerca de três anos e meio, preparando o caminho para Jesus, que também ministrou por aproximadamente três anos e meio. Assim, quando somamos esses dois ministérios, temos sete anos completos, o que corresponde exatamente a uma semana profética.
No entanto, essa última semana é única e especial. Ela não faz parte da contagem cronológica direta, porque representa o período em que o povo rejeitou o Messias. Por causa dessa rejeição, existe um intervalo profético que separou o cumprimento das 69 primeiras semanas do início da 70ª semana.
O Hiato Profético e o Tempo da Igreja
Em Daniel 9:26, o anjo Gabriel menciona acontecimentos que não pertencem a nenhuma das semanas:
- A morte do Messias (“o Ungido será tirado”).
- A destruição de Jerusalém e do templo, que se cumpriu no ano 70 d.C..
Desde então, Israel foi disperso, e o plano de Deus entrou em uma nova fase, conhecida como o tempo da Igreja. Vivemos nesse intervalo entre a 69ª e a 70ª semana, aguardando o cumprimento final da profecia.
A 70ª Semana: A Grande Tribulação
A última semana, mencionada em Daniel 9:27, representa um período de sete anos ainda futuro. Durante esse tempo, o anticristo firmará um pacto com Israel, mas romperá o acordo na metade da semana, ou seja, após três anos e meio. É nesse momento que ele interromperá os sacrifícios no templo e estabelecerá a chamada “abominação desoladora”, citada por Jesus em Mateus 24:15.
Essa 70ª semana corresponde ao período conhecido como Tribulação, quando Deus voltará a tratar diretamente com Israel e o mundo será julgado. O clímax acontece com a segunda vinda de Cristo.
A Necessidade da Reconstrução do Templo
Um detalhe crucial da profecia é a menção de sacrifícios sendo interrompidos. Isso exige a existência de um terceiro templo em Jerusalém. Contudo, desde 70 d.C., o templo foi destruído e, hoje, o local onde ficava o Santo dos Santos é ocupado pela Mesquita de Al-Aqsa e pelo Domo da Rocha, ambos de domínio muçulmano.
Muitos estudiosos acreditam que a reconstrução do templo será um marco importante, possivelmente viabilizado pelo acordo mencionado em Daniel 9:27. Isso aproxima ainda mais os acontecimentos finais descritos nas Escrituras.
Sombras Proféticas no Antigo Testamento
O Antigo Testamento traz algumas “sombras” que apontam para esses períodos de sete que se repetem, veja:
- Jacó trabalhou sete anos por Lia e mais sete por Raquel (Gênesis 29:27-30).
- O sonho de Faraó, interpretado por José, falava de sete vacas gordas e sete vacas magras (Gênesis 41).
- Também havia sete espigas boas e sete espigas ruins, simbolizando períodos de fartura e escassez.
Da mesma forma como o Reino foi anunciado e rejeitado por João Batista e Jesus durante sete anos, os povos judeus e gentios incrédulos passarão por um período de tribulação durante sete anos, e isso já era anunciado de forma figurada na Antiga Aliança.
Conclusão
A profecia das 70 semanas de Daniel revela com precisão o plano soberano de Deus para Israel, a Igreja e a humanidade. Sessenta e nove semanas já foram cumpridas com a vinda do Messias. Estamos vivendo no intervalo entre a 69ª e a 70ª semana, aguardando o início do período da Grande Tribulação e a segunda vinda de Cristo.
Essa profecia nos lembra que Deus controla a história e que Seu plano para o futuro já está traçado. Para o cristão, esse estudo não deve produzir medo, mas esperança, pois aponta para o retorno glorioso do nosso Senhor.
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