Cada vez mais, cristãos buscam versões da Escritura em uma linguagem acessível. Hoje temos no Brasil diversas opções de tradução, algumas mais literais, outras mais dinâmicas, e até mesmo paráfrases. Mas será que todas elas servem para a prática da hermenêutica e da exegese bíblica? Essa é a pergunta que vamos responder.

Traduções bíblicas: correspondência formal e equivalência dinâmica
Ao longo da história, a Bíblia foi traduzida para centenas de línguas. Cada tradução adota uma filosofia. Algumas seguem a chamada correspondência formal, que busca ficar o mais próximo possível do original hebraico, aramaico e grego. São exemplos disso a Almeida Revista e Corrigida (ARC), a Almeida Revista e Atualizada (ARA) e a Bíblia de Jerusalém. Essas versões mantêm termos mais literais, mas muitas vezes soam difíceis para o leitor moderno. Palavras como regozijar, jactância, holocaustos ou apostasia exigem que o leitor tenha um bom dicionário por perto.
Por outro lado, surgiram traduções de equivalência dinâmica, como a Nova Versão Internacional (NVI), a Nova Almeida Atualizada (NAA), a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) e a Nova Versão Transformadora (NVT). Elas procuram transmitir o sentido do texto original em frases mais próximas do português falado. Assim, quem lê consegue entender com mais clareza, sem tropeçar em termos arcaicos.
Essa diversidade mostra que todas as versões têm valor. Como disse uma vez certo pastor: “A melhor versão da Bíblia é a é lida e praticada”. No entanto, é preciso compreender as diferenças para usar cada uma de forma adequada.
O que é uma paráfrase bíblica?
Além das traduções, existem as chamadas paráfrases bíblicas. Diferente da tradução, a paráfrase não se preocupa em reproduzir fielmente o original. Ela busca transmitir a ideia central em palavras livres, geralmente em uma linguagem ainda mais simples e coloquial. É como se alguém recontasse a mensagem da Bíblia com suas próprias palavras.
Exemplos conhecidos são a Bíblia Viva e A Mensagem. Elas cumprem um papel importante: aproximar o texto bíblico de quem tem dificuldades com versões mais densas. Contudo, é necessário dizer com clareza: uma paráfrase não é uma tradução. Ela não serve para estudo profundo, nem para comparações acadêmicas, pois acrescenta interpretações pessoais do autor.
A história de Eugene Peterson e a Bíblia “A Mensagem”
A história de “A Mensagem” começa com o pastor Eugene Peterson, que dedicou sua vida ao ensino das Escrituras. Ele percebeu que seus filhos e até membros de sua igreja tinham dificuldade de compreender o texto bíblico em traduções tradicionais. Movido por amor e zelo pastoral, Peterson decidiu reescrever os textos bíblicos em uma linguagem que seu filho pudesse entender com facilidade. Esse gesto de pai e pastor deu origem ao projeto que mais tarde seria publicado como “The Message”.
Seu objetivo não era oferecer uma tradução acadêmica, mas um recurso devocional. A própria editora deixou claro que não se trata de uma Bíblia para estudos exegéticos, mas de uma leitura que busca trazer frescor e impacto espiritual através da simplicidade. Nesse sentido, a obra é linda e nobre. Quem dera todos os pais tivessem o mesmo cuidado de aproximar a Palavra de Deus de seus filhos como Peterson fez.
Podemos usar paráfrases para hermenêutica e exegese?
A resposta direta é: não. A hermenêutica é a ciência da interpretação bíblica. Já a exegese é o estudo cuidadoso do texto para extrair dele o sentido original. Ambas exigem contato com versões que estejam o mais próximo possível do original. Por isso, traduções literais ou dinâmicas são ferramentas indispensáveis.
Uma paráfrase, como “A Mensagem”, já traz a interpretação do autor embutida. Se alguém basear sua exegese nela, corre o risco de analisar o pensamento de Eugene Peterson em vez do pensamento de Paulo, Pedro ou João. É como usar um sermão como base para estudo exegético: pode edificar, mas não substitui o texto inspirado.
Por outro lado, paráfrases podem ser usadas como complemento. Em devocionais pessoais, em cultos familiares ou até mesmo no púlpito, um versículo lido em “A Mensagem” pode enriquecer a compreensão, especialmente se vier acompanhado da leitura em outra tradução confiável. Assim, o texto ganha cor e vida sem perder a referência à Escritura fiel.
O perigo de versões adulteradas e ideologizadas
Além da questão das paráfrases, precisamos estar atentos a versões adulteradas. Um exemplo é a Tradução do Novo Mundo, usada pelas Testemunhas de Jeová. Ela altera trechos fundamentais, especialmente os que falam da divindade de Jesus, para se adequar à sua doutrina. Da mesma forma, já circulam bíblias de cunho ideológico, progressista e até mesmo versões satânicas. Todas distorcem o texto sagrado e afastam os leitores da verdade.
Por isso, devemos ser vigilantes. Nem toda “bíblia” que se apresenta como tal merece nossa confiança. O cristão precisa discernir e escolher versões produzidas com responsabilidade e respeito ao texto original.
Exemplos práticos de comparação
Para deixar claro, vejamos um exemplo em João 1:1:
- ARA: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”
- NVI: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus.”
- A Mensagem: “A Palavra estava presente desde o princípio. A Palavra estava junto de Deus, pronta para Deus desde o primeiro momento. A Palavra era Deus em toda a essência.”
Perceba: enquanto as traduções mantêm a declaração curta e direta, a paráfrase amplia a ideia, adicionando interpretações. Isso pode ser útil em leitura devocional, mas não serve como base para estudo exegético. Na verdade, toda versão tem suas limitações e nenhuma é perfeita em si mesma. A própria versão NTLH, por exemplo, ultrapassa o limite da imparcialidade e afirma que o espinho na carne a que Paulo se referiu tratava-se de uma enfermidade.
2 Coríntios 12:7 NTLH
Mas, para que não ficasse orgulhoso demais por causa das coisas maravilhosas que vi, eu recebi uma doença dolorosa, que é como um espinho no meu corpo. Ela veio como um mensageiro de Satanás para me dar bofetadas e impedir que eu ficasse orgulhoso.
A tradução mais honesta seria:
2 Coríntios 12:7 NAA
E, para que eu não ficasse orgulhoso com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte.
Conclusão: qual é a melhor versão da Bíblia?
Chegamos à conclusão de que todas as versões têm seu valor. As traduções de correspondência formal preservam a literalidade, embora exijam mais esforço do leitor. As de equivalência dinâmica aproximam o texto da linguagem atual, facilitando a compreensão. As paráfrases oferecem impacto devocional e leitura fluida, mas não devem ser usadas como base para estudo acadêmico ou exegético.
Portanto, a Bíblia “A Mensagem” é uma obra preciosa, fruto do amor de um pai e pastor. Ela pode tocar corações, inspirar reflexões e enriquecer devocionais. No entanto, para hermenêutica e exegese, precisamos recorrer a traduções confiáveis e próximas do original. Como já dissemos, a melhor Bíblia é aquela que você lê, entende e pratica. Mas é fundamental escolher versões que transmitam com fidelidade a verdade revelada por Deus.
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