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Dispensacionalismo: As Sete Dispensações e o Plano de Deus na História

    A Origem do Dispensacionalismo

    O dispensacionalismo bíblico se refere a um sistema de interpretação que entende que a história da humanidade está organizada por Deus em sete períodos distintos, chamados de dispensações. Assim, em cada uma delas, Deus revela Seu plano de forma progressiva e, desse modo, atribui responsabilidades específicas ao ser humano. No entanto, após cada fracasso humano, Deus novamente manifesta Sua graça, tornando-a ainda mais abundante e revelando Seu propósito com maior clareza.

    Por isso, muitos estudiosos reconhecem que o dispensacionalismo busca harmonizar a narrativa bíblica de maneira coerente. Contudo, alguns críticos afirmam que essa doutrina teria surgido apenas no século XIX, com o teólogo John Nelson Darby (1800–1882). Entretanto, essa acusação não se sustenta historicamente. De fato, embora Darby tenha sistematizado o ensino e o propagado de forma mais clara, já havia entre os primeiros cristãos a compreensão de que existia uma distinção evidente entre Israel e a Igreja. Além disso, a ideia de um arrebatamento pré-tribulacional já era conhecida muito antes.

    Por exemplo, pais da igreja, como Irineu de Lyon (130–202), Efraim da Síria (306–373) e Cipriano de Cartago (200–258), deixaram registros que apontam claramente para a expectativa de que a Igreja seria retirada antes da Grande Tribulação. Dessa forma, fica evidente que a esperança do arrebatamento não nasceu com Darby, mas possui raízes históricas sólidas que remontam aos primeiros séculos do cristianismo.

    A Origem do Dispensacionalismo

    O nome de John Nelson Darby aparece com frequência quando se fala sobre dispensacionalismo, pois ele foi quem organizou e propagou essa doutrina de forma mais clara a partir da década de 1830. Darby fazia parte dos Irmãos de Plymouth, um movimento que surgiu na Inglaterra com forte ênfase no retorno literal de Cristo, na esperança escatológica e na separação entre Israel e Igreja.

    No entanto, pesquisas acadêmicas recentes — como o trabalho de Larry V. Crutchfield, publicado no Journal of the Evangelical Theological Society — demonstram claramente que o conceito de um arrebatamento pré-tribulacional já era defendido por diversos autores muito antes de Darby. Por exemplo, um sermão atribuído a Pseudo-Efraim, datado do século IV, contém a seguinte afirmação:

    “Todos os santos e eleitos de Deus serão reunidos antes da tribulação que há de vir e serão levados ao Senhor.”

    Assim, esses registros deixam evidente que a esperança de um arrebatamento prévio não foi uma invenção do século XIX. Pelo contrário, tratava-se de uma tradição já presente desde os primeiros séculos da Igreja, o que fortalece ainda mais a base histórica do dispensacionalismo.


    As Sete Dispensações da História Bíblica

    O dispensacionalismo clássico divide o plano divino em sete dispensações. Cada uma delas revela um aspecto do relacionamento de Deus com a humanidade:

    1. Inocência (Gênesis 1–3)

    Inicia na criação do homem, quando Adão e Eva viviam em perfeita comunhão com Deus. O teste era simples: obedecer ao mandamento de não comer do fruto proibido. A queda trouxe o pecado, a morte e o rompimento da comunhão com o Criador.

    2. Consciência (Gênesis 4–8)

    Após a queda, a humanidade passou a viver guiada pela própria consciência. Contudo, o pecado se espalhou rapidamente, culminando na corrupção geral da raça humana. O juízo veio por meio do Dilúvio, mas a graça de Deus preservou Noé e sua família.

    3. Governo Humano (Gênesis 9–11)

    Depois do Dilúvio, Deus instituiu a responsabilidade humana de estabelecer leis e administrar a justiça. O fracasso aconteceu na Torre de Babel, quando os homens se rebelaram, tentando criar um reino sem Deus. Como resultado, houve a confusão das línguas e a dispersão dos povos.

    4. Promessa ou Patriarcal (Gênesis 12–Êxodo 19)

    Aqui, Deus chama Abraão e estabelece um pacto eterno com ele e seus descendentes. A promessa incluía uma terra, uma nação e uma bênção que alcançaria todas as famílias da Terra. Apesar das falhas humanas, Deus manteve Sua fidelidade.

    5. Lei (Êxodo 20–Atos 1)

    Por meio de Moisés, Deus entregou a Lei a Israel, com mandamentos, sacrifícios e cerimônias. A Lei revelou a santidade divina, mas também expôs a incapacidade humana de cumprir a vontade de Deus. Essa dispensação terminou com a morte e ressurreição de Cristo.

    6. Graça, Mistério ou Igreja (Atos 2–Apocalipse 3)

    Com a vinda do Espírito Santo, nasce a Igreja, formada por judeus e gentios. Vivemos hoje nessa dispensação, onde a salvação é oferecida gratuitamente pela fé em Jesus. Este período terminará com o Arrebatamento da Igreja (1Ts 4:16-17).

    7. Milênio (Apocalipse 20)

    Após a Tribulação, Cristo reinará por mil anos sobre a Terra, cumprindo todas as promessas feitas a Israel. Ao final, Satanás será definitivamente derrotado e virá o estado eterno.


    O Impacto de 70 d.C. na Escatologia

    A destruição de Jerusalém e do Templo em 70 d.C., pelo general romano Tito, foi um divisor de águas na interpretação escatológica. Sem o templo, muitos intérpretes antigos tiveram dificuldades para entender onde os judeus, Israel e o templo se encaixariam nas profecias. Por séculos, prevaleceu a ideia de que Deus havia rejeitado Israel definitivamente.

    Contudo, a fundação do Estado de Israel em 1948 trouxe uma nova luz sobre o estudo da escatologia. Para os dispensacionalistas, o renascimento da nação é um cumprimento profético e um forte indicativo de que estamos nos aproximando do fim dos tempos. O templo e o povo de Israel voltaram ao centro das expectativas proféticas.


    Referências para Estudo

    • Larry V. CrutchfieldJournal of the Evangelical Theological Society, vol. 27, n. 2.
    • John F. WalvoordThe Rapture Question.
    • Charles C. RyrieDispensationalism Today.
    • Renald ShowersMaranatha: Our Lord, Come!

    Conclusão

    O dispensacionalismo não é uma invenção moderna, mas um sistema de interpretação que busca respeitar a progressividade da revelação divina e a distinção entre Israel e a Igreja. Desde os primeiros séculos, a esperança do arrebatamento pré-tribulacional já estava presente nos escritos dos pais da Igreja. A destruição do templo em 70 d.C. trouxe desafios interpretativos, mas a restauração de Israel em 1948 reafirma que o plano de Deus para Seu povo continua ativo.

    A escatologia bíblica, quando estudada com seriedade, não gera medo, mas esperança, pois nos lembra que Cristo voltará e cumprirá todas as Suas promessas.

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