Compreender corretamente o que Jesus quis dizer em Mateus 24:34 exige atenção. Muitos críticos afirmam que há uma contradição, pois o texto declara: “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam”. Para o leitor desavisado, parece que Jesus se equivocou, já que a geração dos discípulos morreu e muitos dos acontecimentos ali profetizados ainda não se cumpriram. No entanto, essa acusação revela apenas uma leitura superficial. A verdade é que, analisando o contexto, a perícope e o uso da palavra geneá na língua original, percebemos que não existe erro algum.

1. O Problema da “Geração” em Mateus 24:34
À primeira vista, a declaração de Jesus gera dúvida. Afinal, se os discípulos foram os ouvintes imediatos, como a sua geração poderia permanecer até a consumação dos eventos escatológicos? A questão se torna ainda mais sensível quando consideramos que Jesus falou com tom pessoal, quase como se fosse algo que aconteceria diante dos próprios olhos dos discípulos.
Entretanto, quando estudamos a passagem, descobrimos que Jesus não estava se referindo à geração viva no momento em que falava, mas sim à geração futura da tribulação, e isso fica explícito no versículo 8: “…Todas essas coisas são o princípio das dores”. Essa geração, composta pelo povo judeu que estará presente durante os eventos finais, não passará até que todas as profecias ali mencionadas se cumpram.
2. O Papel da Perícope no Entendimento do Texto
Para interpretar corretamente a Bíblia, é fundamental compreender o que é uma perícope. Esse termo, usado na exegese, designa uma unidade literária dentro do texto bíblico. A perícope é um conjunto de versículos que formam uma seção coesa, com começo, meio e fim, tratando de um tema específico.
Por exemplo, em Mateus 5:3–12 temos a perícope das bem-aventuranças; em João 15:1–8, a perícope da videira verdadeira; e em Lucas 15:11–32, a perícope do filho pródigo. Em todos esses casos, não podemos destacar uma frase isolada sem considerar o todo.
Da mesma forma, Mateus 24:34 só pode ser entendido corretamente dentro da perícope do sermão profético. Todo o capítulo 24 trata dos sinais do fim, da grande tribulação e da volta gloriosa de Cristo. Não se trata de uma exortação ética ou moral, mas de uma profecia escatológica. Portanto, a palavra “geração” precisa ser interpretada dentro desse mesmo campo.
3. Jesus Usando Pessoas como Representação de Povos
Um ponto fundamental para eliminar o aparente conflito é perceber que Jesus frequentemente usava pessoas ou grupos como metáforas para se referir a povos inteiros. Isso explica porque Ele falou diretamente com os discípulos, mas, na verdade, estava apontando para o povo judeu do futuro.
- Em Lucas 23:28, por exemplo, Jesus disse às mulheres que choravam durante sua caminhada ao Gólgota: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e por vossos filhos”. Ele falava a um grupo restrito de mulheres, mas sua mensagem era dirigida a toda Jerusalém, antecipando a destruição da cidade no ano 70 d.C.
- Em Mateus 23:37, Jesus se dirigiu à própria cidade: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados!”. Aqui Ele fala como se a cidade fosse uma pessoa, representando a nação judaica em sua rejeição histórica aos mensageiros de Deus.
- O mesmo ocorre em Isaías 1:3–4, onde Deus descreve Israel como um filho rebelde e como uma nação carregada de iniquidade. A metáfora atribui características de indivíduos a todo um povo.
Esses exemplos demonstram que não há contradição quando Jesus fala diretamente aos discípulos, mas projeta sua fala para o povo judeu da tribulação.
4. O Significado da Palavra “Geração” Segundo o Strong
O termo grego usado por Jesus é geneá. De acordo com a Concordância de Strong, a palavra possui quatro significados principais:
- Paternidade, nascimento, natividade.
- Aquele que foi gerado, homens da mesma linhagem, família.
- 2a) Vários graus de descendentes, membros sucessivos de uma genealogia.
- 2b) Em um sentido negativo, uma nação perversa.
- Totalidade de pessoas que vive em uma mesma época.
- Época ou espaço de tempo ocupado por cada geração sucessiva.
Note que os significados 1 e 2 se encaixam perfeitamente em Mateus 24:34. A palavra aponta para a linhagem natural do povo judeu, descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, que estarão vivos no período da tribulação. Essa linhagem não passará até que tudo se cumpra.
Assim, Jesus não estava preso à ideia de cronologia imediata, mas sim à garantia de que a descendência judaica permanecerá até a consumação da profecia. Ao longo das escrituras, notamos vários povos que passaram a não mais existir, como os filisteus, cananeus, amorreus, hititas, etc…mas o povo de Israel, mesmo rejeitando a Cristo, tem uma palavra de Jesus garantindo que eles não deixarão de existir. Em 1948, vimos um milagre: Uma nação de Judeus que voltou a existir depois de quase dois milênios.
5. A Outra Interpretação: Geração Como Conduta Moral
Muitos teólogos também defendem que a palavra “geração” deve ser lida sob o prisma ético, indicando não uma linhagem, mas um tipo de pessoas. De fato, em diversos textos Jesus utiliza a palavra nesse sentido.
Ele fala de uma “geração incrédula e perversa” (Mateus 17:17), ou de uma “geração má e adúltera” (Mateus 12:39). Em tais passagens, a palavra não se refere a um período histórico, mas a um grupo caracterizado pela incredulidade.
Apesar de essa leitura ser coerente em outros contextos, em Mateus 24 ela se mostra insuficiente. Isso porque a perícope não trata de moralidade, mas de eventos escatológicos que envolvem o povo judeu como nação. Portanto, a interpretação mais consistente é aquela que entende “geração” como descendência ou linhagem.
6. Síntese Teológica e a Visão Pré-Tribulacionista
A leitura correta de Mateus 24:34 reforça a perspectiva pré-tribulacionista. Jesus fala com os discípulos judeus, mas aponta para o povo judeu que viverá durante a grande tribulação. Isso confirma que a Igreja não estará mais na terra nesse período, pois será arrebatada antes.
A geração da tribulação, isto é, o povo judeu ainda incrédulo, passará pelos sinais descritos em Mateus 24. Contudo, essa mesma geração não será exterminada, porque Deus preservará Israel, cumprindo sua aliança com Abraão.
Assim, longe de ser uma contradição, Mateus 24:34 é uma afirmação da fidelidade divina. Jesus garante que a descendência judaica permanecerá até o fim, sendo testemunha viva de tudo o que foi profetizado.
7. Conclusão
A interpretação superficial de Mateus 24:34 pode sugerir que Jesus errou, mas a análise cuidadosa mostra exatamente o contrário. A perícope, o uso bíblico de metáforas para povos inteiros e o estudo lexical da palavra geneá revelam que Jesus se referia à geração da tribulação.
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