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Éfeso — Parte 1: A Igreja que Esfriou no Amor

    Igreja de Éfeso — essa é a expressão que abre o capítulo 2 do livro de Apocalipse, marcando o início das cartas às sete igrejas da Ásia. Desde já, percebe-se que Éfeso não era uma cidade qualquer. De fato, era a principal metrópole da província romana da Ásia, exercendo um papel político, religioso e comercial de grande destaque. Por isso, é nesse ambiente de grande influência que Jesus endereça à igreja local uma mensagem repleta de elogios, mas também de advertências.

    A cidade de Éfeso e sua importância estratégica

    Éfeso era uma cidade rica, portuária, densamente populosa e culturalmente ativa. Graças ao seu porto, o comércio prosperava, tornando-a um centro estratégico de influência. Além disso, templos majestosos, como o de Ártemis — uma das sete maravilhas do mundo antigo —, destacavam seu peso religioso. Da mesma forma, a Biblioteca de Celso revelava sua sofisticação intelectual. Consequentemente, a cidade respirava idolatria, filosofia, sensualidade e paganismo, criando um ambiente hostil à fé cristã.

    Apesar disso, a igreja de Éfeso se destacou como uma comunidade firme, que havia recebido ministérios apostólicos poderosos: Paulo, João e Timóteo passaram por lá. Desse modo, a fé efésia foi semeada com zelo doutrinário e cresceu num terreno difícil, resistindo à corrupção moral do seu entorno. Por fim, tudo isso torna a mensagem de Cristo à igreja ainda mais significativa.


    Uma igreja elogiada por sua ortodoxia e perseverança

    Jesus começa sua carta com um reconhecimento claro: “Conheço as tuas obras, o teu trabalho árduo e a tua perseverança…” (Apocalipse 2:2). Em outras palavras, o Senhor vê. Nada escapa aos Seus olhos. A igreja de Éfeso era ativa, zelosa e comprometida com a verdade. De fato, trabalhava com dedicação e não tolerava os falsos apóstolos. Era uma comunidade de fé madura, resistente à heresia e perseverante no sofrimento.

    Além disso, a ortodoxia da igreja é elogiada diretamente: “… puseste à prova os que se dizem apóstolos e não são, e os achaste mentirosos.” A palavra usada para “provar” carrega o sentido de testar minuciosamente, como quem examina metais para verificar sua pureza. Assim, tratava-se de uma igreja criteriosa, que amava a verdade e combatia o engano. Ademais, Cristo também elogia sua resistência diante do sofrimento e sua paciência ao suportar pressões externas. Portanto, temos diante de nós uma comunidade espiritualmente ativa, que enfrentava lutas sem esmorecer.


    O peso da repreensão: “Você abandonou o seu primeiro amor”

    O primeiro ponto desfavorável mencionado na carta à igreja de Éfeso aparece no versículo 4: “tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor”. À primeira vista, muitos interpretam essa passagem como uma perda de fervor espiritual — como se os cristãos já não buscassem a Deus com o mesmo entusiasmo do início da caminhada. No entanto, essa interpretação pode não refletir o contexto de forma precisa.

    Vale lembrar que, uma das maiores qualidades da igreja de Éfeso era seu zelo doutrinário. Eles testavam aqueles que se diziam apóstolos, mas não eram, e os desmascaravam. Isso demonstra que o fervor ainda existia, especialmente no compromisso com a verdade. Sendo assim, é mais provável que o abandono do primeiro amor esteja ligado não à diminuição do entusiasmo espiritual, mas ao esfriamento no amor fraternal — um tipo de desconfiança crescente entre os próprios irmãos.

    Jesus não foi desfavorável ao zelo doutrinário contra as falsas doutrinas, mas o que Ele queria era que essa atitude não sufocasse o amor e a piedade dentro do corpo de Cristo, que é a marca de todo cristão.

    Perceba que não se trata de odiar pessoas, mas práticas (Efésios 6:12). Como cristãos, precisamos entender que há práticas que desagradam a Deus, e como consequência, elas também precisam nos desagradar. Temos vivido uma distorção da palavra “amor” na nossa geração, como se ela significasse concordar e dar louvor a tudo que as pessoas fazem, mas isso não é cristianismo. Procurar igrejas ou doutrinas que concordem ou aceitem as nossas vontades pessoais é sinal de um coração duro que não está disposto a dar tudo de si a Deus.


    Uma advertência e um chamado urgente ao arrependimento

    Jesus não apenas aponta a falha, mas também oferece o caminho da restauração: “Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio.” (Apocalipse 2:5). Há aqui três ordens claras: 1) lembrar, 2) arrepender-se e 3) voltar às obras do início. A restauração começa com consciência, passa pela mudança de direção e se expressa em ações renovadas.

    Essa advertência vem com seriedade: “Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do seu lugar.” O candelabro representa a própria existência da igreja como luz no mundo. Jesus está dizendo que, sem o primeiro amor, não faz sentido manter a presença institucional da igreja. Pode haver estrutura, membros, reuniões — mas se não houver amor, não há luz.


    Para onde vai essa carta?

    Essa primeira parte da carta à igreja de Éfeso nos leva a refletir com seriedade sobre nossa vida espiritual. É possível manter uma aparência de firmeza, ortodoxia e perseverança, e ainda assim estar longe do coração de Cristo. O primeiro amor é essencial, não opcional.

    No próximo artigo, exploraremos:

    • O significado da promessa feita aos vencedores;
    • A referência aos nicolaítas e o que isso representa;
    • A aplicação prática dessa carta para os dias atuais;
    • E a conclusão da mensagem de Jesus à igreja em Éfeso.

    Quer continuar aprender mais? Clique aqui e leia a parte 02. Acesse também o blogo Verbo da Vida.

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