A igreja de Éfeso havia demonstrado zelo doutrinário, resistência à heresia e perseverança no sofrimento. No entanto, mesmo com tantas qualidades, o Senhor apresenta uma queixa grave: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor” (Apocalipse 2:4). A repreensão vem com firmeza, mas também com um tom de apelo pastoral. O problema identificado por Cristo não estava na doutrina, nem na resistência à perseguição, mas no coração dos crentes. Eles haviam deixado de lado o que é essencial: o amor. Não o amor emocional ou entusiasmo religioso, mas a disposição sincera de caminhar em comunhão, em humildade e em confiança mútua.
Tal abandono, segundo a abordagem do livro, está mais relacionado à frieza nos relacionamentos do que à perda de fervor espiritual. A igreja, que tanto se preocupava em provar os que se diziam apóstolos e não eram, parece ter desenvolvido um ambiente de constante desconfiança e julgamento. O zelo doutrinário, embora louvável, pode se tornar prejudicial quando nos afasta do amor pelos irmãos. Não por acaso, é nessa mesma cidade que o apóstolo João — conhecido como o apóstolo do amor — encerra seus dias, e seu sermão final, segundo a tradição, era repetidamente: “Filhinhos, amai-vos uns aos outros”.

Lembre-se, Arrependa-se e Volte às Práticas do Início
Jesus apresenta um caminho para a restauração. Ele diz: “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras” (Ap 2.5). O Senhor não apenas aponta a falha, mas oferece uma solução. Há três imperativos aqui: lembrar, arrepender-se e voltar. Lembrar é um exercício espiritual de recuperação da sensibilidade; é olhar para trás, com humildade, e reconhecer o ponto de inflexão. Arrepender-se é uma atitude ativa de mudança — envolve confissão e decisão. Por fim, voltar às primeiras obras é retomar o amor em ação: comunhão, cuidado, perdão e generosidade.
Essa orientação mostra que o Senhor deseja restauração, não destruição. A correção é clara, mas cheia de graça. Ele quer que a igreja volte ao ponto onde se desviou e reencontre a motivação certa por trás de suas boas obras. O ativismo, por si só, não é suficiente; é preciso que ele seja sustentado pelo amor verdadeiro, que reflete a natureza de Cristo. O chamado ao arrependimento é, portanto, um gesto de misericórdia, que revela o caráter pastoral do Senhor da Igreja.
A Seriedade das Consequências
Contudo, o Senhor deixa claro que há consequências para a negligência espiritual. Ele diz: “Se não te arrependeres, virei contra ti e tirarei do seu lugar o teu candelabro” (Ap 2:5). O candelabro representa a própria igreja como testemunha diante do mundo. Isso não significa necessariamente o fechamento físico da congregação, mas a perda de relevância espiritual, de autoridade e de influência. Igrejas podem continuar existindo institucionalmente, mas sem vida, sem unção e sem impacto — um corpo sem alma.
Não devemos receber a advertência como uma ameaça, mas como uma expressão do zelo e do amor do Senhor, que não negocia princípios espirituais. Por isso, o cristão precisa brilhar como um luzeiro no meio de uma geração corrompida e afastada de Deus. Aqueles que perseveram até o fim receberão, com certeza, um galardão sobremodo excelente. Nesse cenário, quando Deus nos corrige ou disciplina, Ele revela que nos ama e nos torna participantes da Sua natureza celestial. O amor ergue pessoas, direciona cada um ao seu verdadeiro potencial, e não as prende, bloqueia ou mantém sob um jugo eterno de regras e castigos. O amor não se preocupa em ganhar medalhas ou conquistar o título de funcionário do mês, pois no Reino de Deus não existe competição. Todos correm para alcançar a coroa incorruptível e prestar contas ao Senhor por tudo o que receberam dEle. Quando agimos em amor, criamos espaço para que o Senhor se manifeste com liberdade em nossa vida.
Recompensa aos Vencedores
Jesus encerra sua carta com uma promessa: “Ao que vencer, darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus” (Ap 2.7). A mensagem termina como começou: com Cristo no centro. O vencedor, aqui, é aquele que ouve a correção, se arrepende e volta ao caminho do amor. Essa promessa remete ao Éden, à restauração plena e à vida eterna. Cristo está oferecendo, mais uma vez, o acesso à plenitude da comunhão com Deus — algo que havia sido perdido no Gênesis, mas que será restaurado no final dos tempos.
A promessa é pessoal (“ao que vencer”) e também escatológica. Ela aponta para a eternidade, mas começa agora, com a decisão de amar, perdoar e manter-se firme no evangelho. A carta à igreja de Éfeso, portanto, é um chamado à autenticidade cristã, à integridade espiritual e ao retorno ao amor que nos impulsiona. Jesus está no meio da Igreja, com olhos de fogo e voz como muitas águas, mas também com mãos estendidas, chamando ao arrependimento e oferecendo vida abundante.
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