Quando chegamos ao capítulo 5 do livro de Apocalipse, João nos leva para uma cena impressionante nos céus. Ele vê Deus segurando um rolo, ou um livro selado com sete selos, escrito por dentro e por fora. À primeira vista, isso pode parecer estranho para quem está acostumado com livros como os de hoje. No entanto, naquela época, documentos importantes eram escritos em pergaminhos. Além disso, eles eram selados com cera quente ou argila, justamente para garantir que ninguém mexesse antes da hora certa. Ou seja, havia um processo claro de segurança e legitimidade. Por isso, esse detalhe do texto nos ajuda a entender o peso e a seriedade da visão que João teve.

Um tipo de testamento
Os romanos usavam rolos selados com frequência, principalmente para testamentos ou contratos muito importantes. Na maioria das vezes, esses documentos traziam sete selos, e cada selo representava uma testemunha que confirmava a autenticidade do conteúdo. Por isso, apenas alguém com autoridade tinha permissão para abrir os selos e ler o que estava escrito. De certa forma, esse processo seguia regras bem definidas, parecidas com as exigências que vemos hoje em cartórios.
João também reparou que o livro estava escrito por dentro e por fora — um detalhe incomum. Geralmente, os escribas deixavam a parte de fora do pergaminho em branco, enquanto escreviam o conteúdo apenas no lado de dentro. Mesmo assim, alguns estudiosos acreditam que esse detalhe mostra que o livro se tratava de um Doppelurkunde, ou seja, um “documento duplo”. Nesse modelo, o autor escrevia o conteúdo duas vezes: um resumo visível na parte de fora e o texto completo por dentro, lacrado com os selos. Dessa forma, qualquer pessoa podia entender do que se tratava o documento, sem precisar abrir o rolo e quebrar os selos antes da hora certa.
O testemunho de João
João, que era o último apóstolo vivo naquela época, se apresenta como alguém que atestava essa visão de maneira muito séria. Ele começa o livro dizendo que estava testemunhando tudo aquilo que Jesus havia mostrado a ele. Veja o que ele mesmo diz:
“Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando o seu anjo, deu a conhecer ao seu servo João, que atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu.” (Apocalipse 1:1-2)
João envia essa mensagem para sete igrejas na Ásia (as testemunhas), que representavam toda a Igreja espalhada pelo mundo. Cada carta que ele escreve é bem direta e personalizada. Isso mostra que o conteúdo da revelação não era apenas simbólico, mas tinha aplicação prática para aqueles cristãos — e também para nós hoje.
Um livro que ninguém podia abrir… até Jesus aparecer
Quando João vê o livro, há um detalhe que chama a atenção: ninguém no céu, na terra ou debaixo da terra era digno de abrir os selos. João começa a chorar. Então, de repente, surge o Cordeiro — Jesus — aquele que foi morto, mas está vivo. Ele é o único digno de abrir o livro e desvendar o que está por vir.
“E veio e tomou o livro da mão direita do que estava assentado no trono.” (Apocalipse 5:7)
Esse gesto tem um significado muito importante. Jesus está assumindo a autoridade de abrir o testamento do Pai, o que nos lembra do que diz o autor de Hebreus:
“Nestes últimos dias, [Deus] nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também fez o universo.” (Hebreus 1:2)
Jesus é o herdeiro legítimo de tudo o que pertence ao Pai. No mundo antigo, o filho primogênito recebia a maior parte da herança e era preparado desde cedo para administrar os negócios da família. Ele passava por tutores, amadurecia, e, em um momento específico, era apresentado publicamente como herdeiro. A boa notícia é que nós também somos herdeiros juntamente com Ele:
Romanos 8:17
E, se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo, se com ele sofremos, para que também com ele sejamos glorificados.
O plano do Pai, a entrega do Filho
É claro que Deus, o Pai, não morre — Ele é eterno. Mas o plano divino envolvia que o Filho se entregasse em nosso lugar, morresse na cruz e ressuscitasse. A morte de Cristo foi suficiente para ativar esse testamento da nova aliança. Como o próprio texto de Hebreus diz:
“Pois onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador.” (Hebreus 9:16)
Portanto, Jesus não apenas tem o direito legal, como também tem a autoridade espiritual para tomar o livro e dar sequência ao plano de Deus para a humanidade.
Como veremos no artigo seguinte, esse livro contém uma série de profecias a serem cumpridas, e simboliza um grande galardão entregue a Jesus, pelo Pai. Com Ele, Cristo poderá “assumir os negócios do seu Pai” e tomar posse do reino reservado a Ele. Nós, como Igreja, também reinaremos com Ele, veja:
2 Timóteo 2:12
se perseveramos,
também com ele reinaremos;
se o negamos,
ele, por sua vez, nos negará;
Clique aqui e leia a continuação desse artigo. Acesse também o blog do Ministério verbo da Vida.