A Igreja de Jerusalém foi a primeira comunidade cristã organizada da história. Ela surgiu logo após a descida do Espírito Santo em Atos 2, evento que marcou o cumprimento da promessa feita por Jesus. Naquela manhã de Pentecostes, nasceu oficialmente a Igreja, dando início a um novo tempo para os seguidores de Cristo. Embora muitos pensem que a Igreja de Roma foi o berço do cristianismo, os registros bíblicos e históricos apontam outro caminho. A Igreja começou em Jerusalém, sob a liderança dos próprios apóstolos, e, a partir dali, passou a se espalhar por outras regiões do Império Romano.

A fundação da Igreja: Atos 2 como ponto de partida
A Igreja de Jerusalém não surgiu por iniciativa humana nem como fruto de uma estrutura institucional. Ela nasceu como resultado direto da ação do Espírito Santo. Após a ressurreição, Jesus ordenou que os discípulos anunciassem as boas novas a todas as nações (Marcos 16:15-17). No entanto, esse movimento missionário não começou imediatamente. Os primeiros discípulos, todos judeus, continuaram em Jerusalém, ainda presos a uma mentalidade voltada apenas à nação de Israel. Somente no Pentecostes, em Atos 2, o Espírito Santo desceu sobre os que estavam reunidos em oração. Como resultado, cerca de três mil pessoas se converteram naquele mesmo dia — judeus da Judeia e também judeus da diáspora que estavam na cidade para a festa. A partir desse momento, formou-se a primeira igreja cristã organizada.
Essa igreja inicial, liderada por Pedro, Tiago (irmão de Jesus) e João, reunia-se todos os dias para orar, aprender com os apóstolos, compartilhar refeições e socorrer os necessitados (Atos 2:42-47). Era uma comunidade viva e fervorosa. Apesar disso, ainda permanecia restrita à cidade de Jerusalém e era composta, majoritariamente, por judeus convertidos. O Evangelho, até então, ainda não havia rompido as barreiras culturais para alcançar os gentios.
Linha do tempo da expansão da Igreja Primitiva
A seguir, veja uma linha do tempo simplificada que mostra como o cristianismo começou em Jerusalém e se espalhou por várias regiões do Império Romano:
- 33 d.C. – Pentecostes (Atos 2): Fundação da Igreja de Jerusalém. Cerca de três mil pessoas se convertem após a pregação pública de Pedro, marcando o nascimento oficial da Igreja cristã.
- 34 d.C. – Conversão de Saulo (Atos 9): O maior perseguidor da Igreja tem um encontro com Cristo e se torna Paulo, futuro apóstolo dos gentios.
- 35–36 d.C. – Evangelização da Samaria (Atos 8): Após uma forte perseguição em Jerusalém, Filipe prega em Samaria. Como resultado, muitos samaritanos creem no Evangelho.
- 36–38 d.C. – Conversão de Cornélio (Atos 10): Pedro, inicialmente relutante, batiza o centurião romano Cornélio. Esse episódio marca a abertura oficial do Evangelho aos gentios.
- 37–40 d.C. – Dispersão dos cristãos (Atos 8:1-4): Após o martírio de Estêvão, muitos seguidores de Jesus fogem de Jerusalém, espalhando o Evangelho por várias regiões. Essa dispersão acelera o crescimento da Igreja.
- 44 d.C. – Igreja em Antioquia (Atos 11): Antioquia se torna um dos principais centros do cristianismo. É lá que os discípulos passam a ser chamados de “cristãos” pela primeira vez (Atos 11:26). A igreja de Antioquia se torna a maior comunidade gentílica da época.
- 46–57 d.C. – Viagens missionárias de Paulo: Durante esse período, Paulo planta igrejas em várias cidades estratégicas do mundo greco-romano, como Éfeso, Filipos, Corinto, Tessalônica, Galácia e muitas outras.
- Por volta de 50 d.C. – Igreja em Roma: A comunidade cristã de Roma já estava estabelecida quando Paulo escreveu sua epístola aos romanos (Romanos 1:8). Ele deixa claro que não foi o fundador da igreja local, e também não aponta nenhum outro apóstolo como responsável por sua fundação.
A Igreja de Roma não foi fundada por Pedro
Um ponto essencial é que Pedro teve, sim, uma atuação significativa na liderança da Igreja primitiva e, conforme a tradição, passou seus últimos anos em Roma. Mesmo assim, não existe evidência bíblica de que ele tenha fundado a igreja de Roma. O livro de Atos descreve sua atuação em Jerusalém, Samaria, Jope e Cesareia, mas não menciona sua ida a Roma. Essa informação, portanto, aparece apenas de forma indireta nas epístolas e, com mais ênfase, em tradições cristãs posteriores.
Além disso, a igreja de Roma já existia antes da chegada de Pedro, como a própria carta de Paulo aos Romanos demonstra. Tudo indica que essa comunidade foi formada por cristãos judeus e gentios convertidos que já moravam na cidade. Por isso, afirmar que Pedro tenha sido o fundador ou o primeiro bispo daquela igreja não encontra base histórica confiável. Muito menos que ele tenha exercido o papel de “papa” nos moldes que só seriam definidos séculos depois.
Provavelmente, a igreja de Roma surgiu a partir de judeus convertidos que estiveram presentes no Pentecostes e, ao retornarem a Roma, levaram consigo a mensagem de Cristo. Isso faz sentido, já que Atos 2:10 menciona “forasteiros romanos” entre os ouvintes do sermão de Pedro naquele dia. Ou seja, a fé cristã chegou a Roma antes mesmo de qualquer apóstolo ter estado lá pessoalmente.
Outro ponto relevante é que a carta de Paulo aos Romanos — escrita por volta do ano 57 d.C. — inclui uma lista de líderes e membros ativos da comunidade local (Romanos 16). Curiosamente, Pedro não aparece entre eles, o que seria estranho se ele realmente fosse o bispo da cidade naquele período.
A centralidade da Igreja de Jerusalém nos primeiros anos
Durante os primeiros vinte anos do cristianismo, a autoridade espiritual e doutrinária permaneceu centralizada em Jerusalém, e não em Roma. Foi a partir de Jerusalém que os apóstolos partiram para evangelizar outras regiões. Além disso, era ali que eles se reuniam para tratar de questões cruciais da fé, como a salvação dos gentios sem a imposição das obras da Lei (Atos 15). O concílio registrado em Atos, liderado por Tiago, demonstra claramente que Jerusalém, e não Roma, era o centro das decisões doutrinárias naquele período.
Por outro lado, a ideia de um papado com autoridade suprema sobre a Igreja, tendo Pedro como primeiro papa, surgiu apenas mais tarde. Historicamente, a doutrina do primado de Pedro começa a ganhar força a partir do século III. Ela só se consolida de forma mais clara no século V, com o bispo Leão I (440–461 d.C.), considerado por muitos historiadores como o primeiro papa no sentido institucional e hierárquico que se conhece hoje.
Este artigo faz parte da série “As Origens da Igreja Cristã”: