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A Visão Glorificada de Cristo

    A partir do momento em que João descreve sua visão glorificada de Cristo, o cenário do livro de Apocalipse muda completamente. Já não estamos diante do Cordeiro em sofrimento, mas do Leão da Tribo de Judá, revestido de majestade, autoridade e poder. O capítulo 1 de Apocalipse, a partir do versículo 9, nos conduz a uma revelação sobre quem é Jesus hoje — não mais o servo sofredor, mas o Rei glorificado.

    O significado do “Dia do Senhor”

    João declara: “Achei-me no Espírito, no dia do Senhor” (Ap 1.10). Esse termo tem sido mal interpretado por séculos. Muitos associam o “Dia do Senhor” ao domingo ou ao sábado, mas o contexto escatológico do Apocalipse aponta para outra realidade. A expressão remete ao tempo do juízo de Deus sobre a Terra — mais especificamente ao período da Tribulação, mas também pode ter um significado mais amplo, se referindo ao arrebatamento da Igreja e se estendendo até a volta gloriosa de Cristo.

    Esse “dia” é mencionado com frequência no Antigo Testamento, e sempre com um tom solene de julgamento:

    “Ah! Que dia! Porque o Dia do Senhor está perto e ele vem como destruição da parte do Todo-Poderoso.” (Joel 1:15)

    “O Dia do Senhor será um dia de trevas e não de luz!” (Amós 5:18)

    Também no Novo Testamento, Paulo precisou corrigir os crentes de Tessalônica, que pensavam que o Dia do Senhor já havia chegado. Ele escreve:

    “Ninguém, de modo nenhum, os engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia…” (2Tessalonicenses 2:3)

    Ou seja, o Dia do Senhor não é um momento do calendário semanal, mas um tempo profético, reservado para o cumprimento de eventos escatológicos que ainda estão por vir.


    Candelabros, Estrelas e a Centralidade de Cristo

    Na sequência da visão, João vê sete candelabros de ouro e, no meio deles, Jesus. O simbolismo aqui é riquíssimo: os candelabros representam as sete igrejas da Ásia, e Jesus está no meio deles, revelando sua presença ativa e constante na vida da Igreja. Ele não observa de longe; Ele caminha entre os candelabros, sonda os corações, corrige, orienta e sustenta.

    Além disso, a imagem dos candelabros aponta para a missão da Igreja no mundo: iluminar. Assim como o candelabro no templo lançava luz sobre o ambiente, os crentes devem ser luzeiros em meio a uma geração corrompida, como nos exorta Paulo em Filipenses 2:15:

    para que sejam irrepreensíveis e puros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual vocês brilham como luzeiros no mundo,

    João também vê sete estrelas na mão direita de Jesus, as quais o próprio texto se refere a elas como sendo os “anjos das igrejas”. Muitos estudiosos concordam que o termo “anjos”, nesse contexto, se refere aos líderes espirituais de cada congregação — homens levantados por Deus para guiar o Seu povo. O fato de estarem na mão direita de Cristo mostra que esses ministros são sustentados e dirigidos por Ele.


    A descrição glorificada do Filho do Homem

    A descrição que João faz de Jesus é única em toda a Bíblia. Nessa visão glorificada de Cristo, ele O vê com vestes talares, um cinturão de ouro no peito, cabelos brancos como a neve, olhos como chama de fogo, pés como bronze polido e uma voz como muitas águas.

    Cada detalhe carrega um simbolismo:

    • Vestes talares: remetem às vestes sacerdotais descritas em Êxodo 28, indicando que Jesus é nosso Sumo Sacerdote.
    • Cinturão de ouro no peito: representa autoridade real e função sacerdotal.
    • Cabelos brancos como a neve: simbolizam pureza, santidade e eternidade.
    • Olhos como chama de fogo: revelam o olhar penetrante de Jesus, que tudo vê e tudo julga. Essa característica será melhor trabalhada quando falarmos sobre a carta endereçada a Igreja de Tiatira.
    • Pés como bronze polido: expressam firmeza, juízo e santidade. Essa característica será melhor trabalhada quando falarmos sobre a carta endereçada a Igreja de Tiatira.
    • Voz como muitas águas: indica majestade, poder e domínio absoluto.

    Esses elementos não apenas nos revelam a aparência do Cristo exaltado, mas também o tipo de relacionamento que Ele deseja com sua Igreja: baseado em reverência, dependência e entrega.


    A espada que sai da boca e o brilho do seu rosto

    Além disso, João vê uma espada afiada de dois gumes saindo da boca de Jesus. A espada representa a Palavra de Deus — e, nesse contexto, refere-se a uma palavra de juízo, e não apenas de consolo. A palavra grega utilizada aqui é rhomphaia, que designa uma arma de guerra. Reis a empunhavam para declarar vitória e exercer autoridade sobre os vencidos. Assim, Jesus se apresenta como soberano, aquele cuja palavra traz justiça e poder.

    Na sequência, João descreve o rosto de Jesus brilhando como o sol em sua força máxima. Esse detalhe aponta diretamente para a glória incomparável de Deus revelada no Filho. Em Sua presença, não há espaço para sombra, engano ou confusão. Ele é a luz verdadeira, capaz de dissipar toda forma de treva e trazer clareza à nossa jornada.


    Reações humanas à glória divina

    Diante da visão glorificada de Cristo, João não consegue permanecer de pé — ele cai como morto. Não há outra resposta possível quando alguém se depara com a revelação da majestade do Senhor. Ao longo das Escrituras, essa reação se repete: outros personagens também perderam as forças diante da glória divina (Mateus 28:4; Atos 9:4).

    No entanto, Jesus se aproxima, toca João e declara: “Não temas”. Apesar de estar revestido de glória, Ele continua sendo o Deus de misericórdia, que consola, fortalece e encoraja os seus servos. Assim, Sua majestade não exclui a ternura; pelo contrário, ela a torna ainda mais evidente.


    Conclusão: O Cristo que fala, julga e reina

    Por fim, Jesus diz a João: “Escreva as coisas que você viu, as que são e as que hão de acontecer” (Ap 1:19). Esse versículo é a chave para entender todo o livro do Apocalipse, pois ele se refere ao passado, ou seja, a visão que João acabara de ter (as coisas que você viu), ao presente, ou seja, as igrejas (as coisas que são) e ao futuro, ou seja, os eventos proféticos (as coisas que hão de acontecer).

    Essa visão não foi apenas para João. Ela é para todos nós que desejamos conhecer o Senhor como Ele é — glorioso, santo, exaltado, mas também presente, próximo e cheio de graça. Que essa revelação nos desperte para uma vida de reverência, santidade e serviço.

    Quer aprender mais sobre esse tema? clique aqui e saiba mais sobre a simbologia do número 7 no Livro de Apocalipse. Você também pode acessar o Blog Verbo da Vida.

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